Qual o papel da juventude no atual contexto histórico? Como fortalecer a organização da juventude? Essas duas provocações deram continuidade a um rico e intenso processo de reflexão sobre o protagonismo e os desafios da juventude do campo e da cidade na 11ª Jornada de Agroecologia, em Londrina-PR.
De todos os brasileiros que têm 14 a 29 anos, 66% vendem sua força de trabalho. Quem se desdobra entre trabalho e estudo, o DIEESE estima 15 horas ocupadas por dia ao se somar o tempo de transporte. Entre aqueles que não trabalham nem estudam, há mulheres pobres ocupadas com o trabalho reprodutivo familiar e de cuidados. São as cicatrizes da classe trabalhadora que se veem na pele dessa nova geração.
O modelo capitalista de agricultura nega aos jovens o direito à educação, à cultura, ao trabalho e renda e à participação política, levando a expulsão do campo. Do total de oito milhões de jovens camponeses, dois milhões vivem em extrema pobreza e apenas 1% tem acesso à universidade. Apesar da redução do desemprego, o segmento juvenil é o mais afetado pelas relações precarizadas de trabalho, que dá margem a maior exploração. Com a recente retomada de greves e mobilizações sindicais, também cresceu a participação de trabalhadores abaixo dos 30 anos.
Diante desse cenário, Raul Amorim, do coletivo nacional de juventude da Via Campesina, criticou os estereótipos que reduzem a juventude a nicho consumidor, caso de polícia ou agente de desenvolvimento local. Em contraposição ao mito do sucesso individual, sugere a criação de grupos de base nos territórios, como uma ação que fortalece a participação política da juventude na construção de projetos coletivos de transformação social. A esse propósito, Diego Moreira, da direção estadual do MST, resgatou a centralidade da juventude em todos os processos revolucionários. Por isso, instigou os presentes a tomarem para si os três grandes desafios da classe trabalhadora: construir a organização política dentro dos movimentos de massa, travar lutas permanentes contra a ordem do capital, a exemplo dos atos de desobediência civil contra as transnacionais e, por fim, retomar o trabalho de base como prática política.
O Levante Popular da Juventude foi citada como uma experiência recente de construção de um movimento de massas entre as juventudes do meio popular urbano, estudantil e rural. O objetivo é retomar o trabalho de base nas linguagens de agitação e propaganda, para a construção de um Projeto Popular para o Brasil. Hellen Lima, da coordenação nacional do movimento, conta que as primeiras sementes foram lançadas no Rio Grande do Sul. A iniciativa partiu dos movimentos da Via Campesina, do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) e de setores do movimento estudantil. Desde fevereiro de 2012, quando ocorreu seu primeiro acampamento nacional em Santa Cruz do Sul-RS, o Levante vem participando de lutas de rua e organizando grupos de jovens em 17 estados do país.
Para Hellen, a juventude precisa ser sensível a toda e qualquer injustiça e se comprometer com as lutas populares. Se desejarem se contrapor ao individualismo e ao consumismo, os jovens necessitam cultivar o exemplo pedagógico, qualificar-se na agitação e propaganda e dar uma cara nova aos processos de luta com a sua rebeldia. Outra tarefa fundamental é debater o feminismo dentro das organizações e combater todas as formas de opressão.
O território não define apenas um espaço geográfico, mas também um campo ideológico. A respeito da formação dos novos militantes, Diego frisou, como dirigente sem-terra: “Se o jovem do assentamento se mudar à periferia de São Paulo ou a uma fábrica da Renault, precisamos que ele se mantenha nas fileiras de batalha. Por isso, não podemos ser egoístas ao pensar na formação da juventude.”
Não é à toa o encanto da juventude ao conhecer figuras da Revolução Cubana, como Camilo Cienfuegos, Haydée Santamaría, Ernesto Guevara, Celia Sanchez, Fidel Castro e Vilma Espín. Esses jovens militantes se forjaram na luta contra a ditadura de Fulgêncio Batista. Começaram a se organizar em períodos de aparente paralisia social, mas suas experiências de lutas democráticas e populares foram absorvidas por um processo maior, de revolução social. Pode-se dizer que a ligação umbilical com a sua gente lhes ensinou a conduzir os rumos da História. “Sem o conhecimento do povo, da nação, não se faz revolução, pois a transformação social não pode ser importada. A classe trabalhadora jamais entrega seu sangue nas mãos de irresponsáveis”, frisou Diego.
Após uma mística sobre a resistência popular, a Assembleia Popular da Juventude reuniu em plenária mais de mil jovens do Brasil, além de representantes de dez outros países, especialmente da América Latina, presentes na 11ª Jornada de Agroecologia. As organizações presentes confiam na capacidade da juventude em renovar suas energias e potencial de luta, por ser um elemento imprevisível na luta política, surpreendendo aos inimigos e até aos próprios dirigentes experimentados.
Agora é seguir na construção de uma organização política e um programa para a juventude, tendo em mente os interesses da classe trabalhadora. Ainda este ano, o Acampamento Estadual do Levante Popular da Juventude ocorrerá de 6 a 9 setembro em Curitiba, junto ao Grito dos Excluídos. Além disso, apontou-se a construção de um acampamento da juventude do campo e da cidade do Paraná, com caráter de lutas e de formação, para 2013.
O essencial é não desaprender o vocabulário de classe: trabalhadores/as, juventude, revolução, luta, emancipação, liberdade, solidariedade, relações humanas, valores, trabalho e socialismo. Na tradução desses verbetes, ritmo e poesia se mesclam ao som da viola. Como sonhos que não envelhecem, festa, trabalho e pão alimentam a certeza da construção do Projeto Popular para o Brasil, unificando o campo e a cidade nas lutas e nas vitórias.